sexta-feira, 2 de março de 2012

Por uma Terapia Ocupacional humanamente útil.


    As vezes acredito que pensamos, na Terapia Ocupacional, como alguns pensadores pensam a filosofia. Ou seja, como é que se poderia fazer tarefa de filósofo, se de novo se perdesse aquilo que funcionou como substituto de Deus? Seja o pensamento, a razão, seja a linguaguem esse último tour du force para encontrar esse ponto absoluto que garantirá o verdadeiro conhecimento. O que acontece, porém penso aqui com Rorty -, é que o mundo é indiferente a isso. Com ou sem o a priori da religião, com ou sem a filosofia, com ou sem Terapia Ocupacional as pessoas continuam interagindo. Na verdade é um modo de discurso, um jogo de linguaguem, que não explica nem mais nem menos a vida coletiva. De forma que para mim atualmente a questão é: por que acredito na Terapia Ocupacional? Porque com as tarefas que me dou, com os enigmas que pretendo solucionar, com os problemas com que me defronto, acho que a Terapia Ocupacional é infinitamente superior a outras explicações e agires.
    Agora, se eu continuar usá-la e for se desgastando enquanto eficácia, potência, vigor e intensidade, se for perdendo potencial ou o poder de ser humanamente útil, adeus Terapia Ocupacional. Para mim, Terapeuta Ocupacional é um conjunto de pessoas que praticam a Terapia Ocupacional através de variadas vertentes entre as quais a clínica e a transmissão, e operam dentro de uma tradição de solução de enigmas, construção de nexos, que tem uma formação que passa pelo conhecimento através de abstrações, pelas encucações de normas institucionais e normas éticas de comportamento, e pelo aprendizado de resoluções de casos práticos de exemplos constatados.
    Quem conhecer uma outra essência que me diga, por que eu não conheço. O que distingue o Terapeuta Ocupacional é que ele lida com situações problemas que a Terapia Ocupacional foi uma das primeiras a se interessar por coisas relevantes de grandes interesse humano, problemas que permaneceram de sua alçada até que um outro discurso proponha uma melhor ideia sobre eles, ou até que a cultura venha desenvesti-las. Acho que com os problemas humanos assim como com problemas terapêuticos ocupacionais, acontece o que Wittengnstein dizia dos problemas filosóficos: não são resolvidos - são abandonados. E no tocante a demanda da Terapia Ocupacional para onde ela aponta?
    Não sei se saberia dizer muito sobre isso porque acredito que há outros colegas que estão mais dedicados a pensar essa questão da difusão da Terapia Ocupacional e da sua articulação com o social brasileiro.
    Ao me ver, uma das coisas que faz a Terapia Ocupacional ter muita influência e penetração é o fato de ser uma entre tantas a ocupar dentro do campo do saber, um discurso cuja preocupação é o seu endereçamento ao sujeito.
    A questão da subjetividade queiramos ou não, sempre foi algo que esteve no bojo das práticas ocupacionais. Não adianta você dizer: o individuo se divide em subjetividade de classe e subjetividade de extratos culturais. Isto pode ser eficiente e plausível num certo nível, mas no nível da orientação cotidiana tem uma eficiência mínima. É claro que, com a Terapia Ocupacional, os sujeitos passam a dispor de um outro instrumento para poderem pensar a si mesmo de maneira mais adequada às suas finalidades.