Eu indico

 
 
 
ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO NA BIENAL DE SÃO PAULO - EDIÇÃO 2012.
 
 



Quem estiver em São Paulo nos próximos três meses não deixe de visitar a Bienal. Uma exposição da obra de Bispo do Rosário está inserida no evento. Nesta foto um detalhe do “Manto de Apresentação”. Afinal, quem foi Arthur Bispo do Rosário?...
Marinheiro, Louco, Artista. Um Gênio. Permanecem revestido em enigmas a obra e a vida de um homem que, mesmo arrebatado pela loucura, produziu ao longo de décadas uma maravilhosa, fascinante e misteriosa obra. Afinal, a arte é, em essência, uma só, não importa se feita por brancos, negros, índios, mulheres, homossexuais ou doentes mentais. Caso contrario, teríamos que aceitar, simultaneamente rótulos como arte de negros – índios – mulheres – gays – doentes mentais etc. A loucura é uma circunstância capaz de impregnar o ato criador e de lhe dar sentido, mas ainda assim, uma circunstância. Bispo do Rosário abandonou os muitos mundo que vivia, mas, tal qual um maroto minotauro que não permitiu a fuga do Teseu do esquecimento, consegue a proeza de se manter cada vez mais presente em nossos caóticos dias. Bispo do Rosário queria mesmo através do seu “fazer” se apropriar da memória da matéria. Ele passou longe das conversações teóricas sobre arte e foi vanguarda sem saber. Com certeza jamais ouvira falar de bricoleurs de Schwitters ou de Arman. No entanto divide com eles um parentesco estético. A exemplo de Arman, ele colecionava talheres e forjava com eles uma nova ordem no mundo. A obra de Bispo do Rosário produz uma ruptura no mundo da razão. Ele “constrói” o verbo (e seu manto da ascensão é um bom exemplo) para desconstruir a lógica. Fica evidente que o que movia Bispo do Rosário não era a desmistificação da arte, mesmo porque, o seu psiquismo e desassossego não possibilitava tal vislumbre. Ele perseguiu a materialização de objetos no mundo invisível. O que o mundo do consumo rejeitava, em suas mãos se convertia em objeto de culto. Eis aí um retorno a uma realidade pré-moral, pré-civilizatória. Em síntese, a universo do sagrado.
Para saber um pouco mais, procurem conhecer o livro da jornalista Luciana Hidalgo, “Arthur Bispo do Rosário – O senhor do labirinto.


 



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gaetan Gatian de Clérambault
Danielle Arnoux
José María Álvarez
 
O GRITO DA SEDA
Entre drapeados e costureirinhas:
a história de um alienista muito louco.
 
 




 

 
 
Paris. Início do século XX. Setor de psiquiatria da chefatura de polícia de Paris. Aqui se faz a triagem de todos aqueles que, capturados pela polícia, se dizem loucos ou são considerados como tais. Por quase duas décadas, o dr. Gaëtan Gatian de Clérambault, médico-chefe, reina ali absoluto. E tem a sorte de ver passar por suas mãos um tipo muito especial de paciente: mulheres de modesta situação social que são submetidas ao seu exame por terem cometido pequenos furtos de tecidos (seda, sobretudo) pelo simples e inocente prazer de desfrutarem do seu toque sonoro e macio. E disso o doutor Clérambault deixa registros preciosos e precisos.
Por outro lado, o doutor também curte sua própria paixão. Mais especificamente, pelas roupas drapeadas dos povos árabes. Em duas ou três excursões que faz ao Marrocos e à Tunísia o alienista observa homens e mulheres em seus drapeados, entrevista-os, fotografa-os (cerca de cinco mil fotografias).
O presente livro reúne material sobre essas duas facetas do célebre alienista francês. O analista psiquiátrico da paixão pela seda nas mulheres e o psiquiatra apaixonado pelos drapeados árabes.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Donna Haraway
Hari Kunzru
Tomaz Tadeu (Org.)
 
ANTROPOLOGIA DO CIBORGUE
As vertigens do pós-humano.
 




 

 
 
O ciborgue nos força a pensar não em termos de “sujeitos”, de átomos ou de indivíduos, mas em termos de fluxos e intensidades. O mundo não seria constituído, então, de unidades (“sujeitos”) de onde partiriam as ações sobre outras unidades, mas, inversamente, de correntes e circuitos que encontram aquelas unidades em sua passagem. Integre-se, pois, à corrente. Plugue-se. A uma tomada. Ou a uma máquina. Ou a outro humano. Ou a um ciborgue. Eletrifique-se. O humano se dissolve como unidade. É só eletricidade. Tá ligado?
 
 
 
 
 
 
 
 
Baudelaire, Balzac, D' Aurevilly
 
MANUAL DO DÂNDI
A vida com estilo.
 
 





 

Que é, pois, essa paixão que, transformada em doutrina, fez adeptos poderosos, essa instituição não escrita que formou uma casta tão altiva? É, antes de tudo, a necessidade ardente de se prover, dentro dos limites exteriores das conveniências, de uma certa originalidade. É uma espécie de culto de si mesmo, que pode sobreviver à busca da felicidade a ser encontrada em outrem, na mulher, por exemplo; que pode sobreviver até mesmo a tudo aquilo que se chama de ilusão. É o prazer de surpreender e a satisfação orgulhosa de jamais se surpreender.
Charles Baudelaire
 
 
 
 
 
 
 
 
CONHECER O QUADRO:
O JARDIM DAS DELÍCIAS - HIERONYMUS BOSCH.
Museu do Padro, Madri (Espanha)

TRÍPTICO REPRESENTA A CRIAÇÃO DO MUNDO EM FANTASIAS GROTESCAS, DANDO FORMA AOS MEDOS QUE OBCECAVAM OS HOMENS MEDIEVAIS.


O mundo perturbador de Hieronymus Bosch (1450-1516), povoado de pesadelos, tentações e redenções sempre deu margem a todo tipo de interpretação. 
Em 1560, o artista holandês foi considerado “um inventor de monstros e quimeras”. Há quem o tenha chamado de “surrealista do século 15”. Outros relacionam seus quadros à tensão entre o sentimento do pecado ligado aos prazeres, e há ainda os que ligam a práticas da Idade Média, como alquimia, astrologia e bruxaria. Em 1947, por exemplo, o crítico alemão Wihelm Fraenger afirmou que O Jardim das Delícias teria sido pintado em homenagem aos adamitas, seita que defendia a promiscuidade sexual em seus ritos para retomar o estado de Adão antes da expulsão do paraíso. A tese, carece de maiores fundamentos.

A obra, em três painéis, o tríptico, descreve a criação do mundo. As abas laterais apresentam o paraíso terrestre e o inferno. Ao centro, homens e mulheres fervilham, nus, saboreando frutos enormes em convívio com pássaros e animais. Principalmente, deleitam-se em múltiplos prazeres eróticos. Várias cenas são surpreendentes nesse painel central. Num ambiente despreocupado e luminoso, casais entregam-se à luxuria  em diferentes locais. Há sexo numa bolha (ver detalhe), embaixo de uma concha, na água etc. A alusão ao prazer carnal ainda se faz em imagens metafóricas. Morangos, maçãs, animais ou estruturas minerais exóticas correspondem a canções, provérbios e obscenidades do tempo de Bosch. O quadro remete ao terceiro dia da criação, com um globo terrestre dentro de uma esfera translúcida, símbolo da fragilidade. Apenas rochas e vegetais estão pintados em branco e preto, o que contrasta com as cores do interior e corresponde a um universo sem Sol ou Lua.

Muito pouco se sabe da vida do artista, e apenas 40 de suas pinturas sobreviveram. Acredita-se que Crucificação, uma composição mais convencional, faça parte das primeiras obras. A maioria de seus quadros, no entanto, é completamente não convencional e reconhecível pelos elementos de fantasia, com criaturas que são meio humanas e meio animais ou máquinas, demônios, bruxos etc. Cenas da vida de Cristo ou de santos convivem com representações do demônio e das tentações.
 

O QUADRO:








 



CINCO DETALHES DO QUADRO:








 



 






 











DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL
GLAUBER ROCHA

DIAGNÓSTICO DA CONDIÇÃO BRASILEIRA SOB A FORMA DE ÓPERA, FILME É ASSINADO POR UM DOS MAIORES NOMES DA PRODIÇÃO NACIONAL.














   Glauber Rocha, possivelmente o mais genial cineasta nacional, já vinha de um curta memorável, O Pátio (1959), e de um primeiro longa mítico, Barravento (1962), quando rodou este que é considerado por muitos o maior filme brasileiro já feito. Na verdade, alguma raras vezes ultrapassado por Limite (1930), de Mário Peixoto, e por outro do mesmo diretor baiano, a obra-prima Terra em Transe (1967). Mas Deus e o Diabo na Terra do Sol pisa em terreno sagrado do cinema nacional, que é o Nordeste brasileiro, espaço simbólico que representa a realidade do país, suas origens, marginalidade em contraste  com os grandes centros urbanos. Nos anos 1960, com a efervescência do debate político, às vésperas do golpe militar de abril de 1964, o longa ganha importância suprema.
   Glauber, diferentemente do que se via nos documentários e do que outros cineastas fizeram nos anos 1990, não glamoriza a região, tampouco enxerga seus habitantes como coitadinhos. A luta de Manoel (Geraldo Del Rey), boiadeiro que se rebela contra a exploração do seu cruel patrão e parte, com a mulher, Rosa (Yoná Magalhães), à procura de um novo líder, é complexa, insolúvel, cheia de escorregões e acertos. Ele seguirá primeiramente um líder religioso, Sebastião (Lídio Silva), que prega o olhar para Deus e a renúncia aos bens materiais. Depois, engajam-se na luta armada de Corisco (Othon Bastos), líder de um bando sanguinário e consciente de que o projeto político caiu por terra. Em meio a tudo isso, encontra-se o mais esclarecido de todos, o mercenário Antônio das Mortes (Maurício do Valle).
   Antes de lançar seu manifesto A Estética da Fome, em 1965, no qual elaborou um estilo e meios de produção que dessem conta das condições materiais precárias do Terceiro Mundo, Glauber já colocou em prática aqui alguns desses procedimentos. Seu programa prentendia captar a urgência do real e, ao mesmo tempo, deixar evidente seu caráter de encenação é uma visão crítica do país traduzida num faroeste encenado com ópera musicada com cordel (escrita pelo cineasta e cantado por Sérgio Ricardo). O diretor também usa a Bachianas nº 5, de Heitor Villa-Lobos, como trilha da sequência que ficou célebre, em que Corisco e Rosa se beijam e a câmera gira em torno do casal.










HÉLIO OITICICA
MUSEU É O MUNDO
ORGANIZAÇÃO: CÉSAR OITICICA FILHO








O título deriva de uma das célebres assertivas do artista e segue à risca os preceitos pregados por ele há quarenta anos, quando muito pouco se falava sobre o termo arte contemporânea, já prenunciada por Oiticica por meio de detalhadas instruções de como montar suas instalações, seguidos à risca pelos curadores, e pelo fato de que elas promoveriam uma interação com os espectadores, fato que é o cerne da produção atual.
O livro revela o percurso de um dos maiores contestadores da sociedade e do mercado de arte, tratado como marginal no Brasil e ovacionado no exterior. Das abstrações geométricas aos bólides, parangolés e penetráveis, a exposição traça um rico perfil deste grande representante da arte brasileira. Ao lado de Lygia Clark, Hélio Oiticica é um dos nomes brasileiros mais reconhecidos lá fora.













 

Hélio Oiticica se aproximou da comunidade do Morro da Mangueira em 1964 e passou a utilizar materiais como pano, plástico, borracha, papel, tinta, corda e esteira para confeccionar indumentárias carnavalescas como "Incorporo a Revolta", vestida por Nildo da Mangueira nesta foto.

 


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MACHADO DE ASSIS POR OTTO LARA RESENDE
Obra traz 162 frases de Machado selecionadas por Otto Lara Resende
Maria Lucia Rangel acaba de lançar 'Machado de Assis por Otto Lara Resende
162 Frases do Maior Escritor Brasileiro, pela Casa da Palavra

















Frases repletas de ceticismo, ironia, amargura e humor do escritor Machado de Assis, selecionadas pelo cronista Otto Lara Resende, foram reunidas e organizadas por Maria Lucia Rangel. O resultado é o recém-lançado livro 'Machado de Assis por Otto Lara Resende - 162 Frases do Maior Escritor Brasileiro' que demonstra o talento de ambos, seja para escrever, seja para selecionar. Ademais, presta uma homenagem a Machado, considerado um dos grandes gênios da história da literatura ao lado de Dante, Shakespeare e Camões. E também homageia Lara Resende, grande frasista machadiano que completaria 90 anos em 2012.



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TRATADO DE MEDICINA DE
FAMÍLIA E COMUNIDADE


 







































































































































































EGRÉGIOS
JUAN ANTONIO VALLEJO - NÁGERA











EXPRESSIONS DE LA FOLIE
HANS PRINZHORN








TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA
LIMA BARRETO










Deprimido, cheio de dívidas e bebendo demais por causa da recepção discreta, quase silenciosa, de seu romance Recordações do escrivão Isaías Caminha, publicado em 1909, Lima Barreto recebeu do amigo João Melo, companheiro de rodas literárias, a sugestão de que escrevesse um folhetim para a imprensa.
Cria, então, a história de Policarpo Quaresma, um funcionário do Arsenal de  Guerra, nacionalista e patriota extremado, uma espécie de Quixote dos trópicos, e de sua luta interminável para reformar o Brasil. Depois de se alistar como combatente republicano, o herói se decepciona com a República, é preso e condenado ao fuzilamento. Velho e descrente, ele afunda no pessimismo.
Amarga meditação sobre os ideais progressistas e o nascimento da República brasileira, temperada com um humor mordaz, Triste fim de Policarpo Quaresma traz forte influência dos realistas russos, em particular Tolstói e Dostoiévski, de quem o autor foi leitor voraz. O romance é peça importante da literatura urbana. Faz, ainda, uma crítica feroz da filosofia positivista, base do pensamento republicano.
Filho da classe média do subúrbio, mulato e sofrendo desde cedo com a loucura do pai, Lima Barreto foi funcionário da Secretaria da Guerra e colaborador assíduo da imprensa. Esteve internado, por duas vezes, no Hospício Nacional. Seu romance, que, apesar de escrito na terceita pessoa, não esconde o fundo memorialista, é peça crucial do Pré-Modernismo brasileiro.








O LIVRO DO DESASSOSSEGO
FERNANDO PESSOA




O livro do desassossego é apresentado como a "autobiografia sem fatos" de Bernardo Soares, um solitário auxiliar de escritório que Pessoa conheceu num restaurante de Lisboa. Num texto fragmentado, dividido em centenas de trechos curtos - alguns ostentando títulos como "A arte do sonho eficiente para mentes metafísicas" -, Bernardo Soares reflete sobre a arte, a vida e os sonhos e observa a mudança do clima e o que acontece nas ruas do centro de Lisboa, medita sobre a futilidade da existência e dá conselhos para se viver uma vida sem sentido.
Fernando Pessoa é mais conhecido como um poeta modernista que publicou seus poemas como obras de heterônimos - pseudônimos com biografias fictícias e estilo totalmente diferentes. Soares é o heterônimo mais próximo do autor. Ele compartilha a mesma impressão de Pessoa, que se sente "um palco vazio, onde vários atores encenam peças diferentes". O texto foi reunido com base em fragmentos de prosa rascunhados em pedaços de papel e no verso de envelopes, encontrados em um baú depois da morte de Pessoa. Existem várias versões do livro, que se baseam em diferentes seleções e organizações desse material. Em essência, o leitor é livre para criar seu próprio livro, seguindo um caminho próprio pelo texto. Já que o autor rejeita a "vida real" e prefere o mundo dos sonhos e das sensações, o livro não tem muita ação externa. Por outro lado, a vida intelectual é celebrada em textos vigorosos, exuberantes, aforísticos e paradoxais.




EIS ANTONIN ARTAUD
FLORENCE DE MÈREDIEU


Artaud é sem contestação um explorador privilegiado do seu mundo, tão bem radiografado em toda sua obra. Através de suas trágicas incursões nos abismos psíquicos produziu texto de um rigor demolidor e de uma lucidez desconcertante. Para Artaud, a loucura, tornou-se a única prova de identidade, de integridade para o verdadeiro ser humano, o verdadeiro artista, forçado a pernoitar numa sociedade de crueldade e maldade transcendental. Artaud seguiu a vocação romântica de levar a vida como uma obra-de-arte. Mas a verdadeira arte era a própria loucura. Artaud praticava a dor e a escrita da dor e dessa forma, a representação da dor através do seu teatro da crueldade. Em suas viagens solitárias as profundezas do seu ser, Artaud interropia -as por vezes para não ultrapassar o limiar do pequeno nada. Deste ponto de vista, além de receiar pela sua vida psíquica, tinha a dimensão que suas descobertas e contundentes afirmações tinha o sabor do seu nada. Para tanto, precisava conter em si grãos de uma sua tempestade e de seu caos interno, a fim de poder assegurar-se de uma condição de não esvaziamento e dessa forma continuar construindo estratégias de produção de vida. Sua dor, o segurava hora à beira do abismo, hora à beira da ação coletiva, como aconteceu no período em que conviveu com os surrealistas.
A partir da década de 1920, Artaud se consumia de dor num ciclo implacável de insanidade. "Eu sofro de uma assustadora doença mental. Um destino assustador me pôs há muito tempo além da razão humana, fora da vida", escreveu Artaud em 1923.
Ele percebia, a exemplo de Poe, Rimbaud e Lautréamont, um poeta e escritor maldito cuja voz só conseguia expressar ao preço do sofrimento, da amargura e do isolamento indescritíveis.
Através de sua poesia, chegou a um acordo familiar com seus demônios e ganhou maior intimidade com seus fantasmas, sentindo-se como um vazio de pesadelos, aterrorizador: Sua consciência era por vez um nada angustiado, que o tornava potencialmente desassossegado, no entanto disponível para criar: Do vazio encarnava-se a criação.
Para Artaud, o artista tinha que estar acima da política, fora da sociedade: além. Tudo mais não passava de uma traição à arte.
Uma linha que atravessa Artaud a vida toda, é a que se desenvolve entre o ser, o poder ser e o ser outro; entre aquilo que ele era num momento, aquilo que ele poderia ser, aquilo que acaba sendo, ou que quer ser, depois de saber o que poderia ter sido e o que não é: "Não posso morrer, nem viver, nem desejar morrer ou viver: Pularei para dentro do mal e contra ele".
Esse jogo oscilante entre impossibilidades desejadas que se transformou em possibilidades rechaçadas não é só de Artaud como ele próprio afirma: "Todos os homens são como eu; a diferença é que aceito ver as coisas". Artaud recusa todo balizamento, todo sítio estabilizado, toda certeza ostentada, cuja função é assegurar a ilusão da paz por breves instantes. Não o atrai a demarcação de territórios. Ao contrário, se precipita no lance da tensão, da inquietação dos membros, se perde e se acha no jardim dos caminhos que se bifurcam.
Sua agonia e as dilacerantes dores, seus vendavais e turbilhões psíquicos, eram na verdade as dores de parto da arte.
Em Artaud o artista como o visionário cristaliza-se numa figura do artista como pura vítima de sua consciência, dos tormentos de uma sensibilidade que se julga irreparavelmente alienada do pensamento, para a qual, pensar e usar a linguagem torna-se um perpétuo e dilacerante calvário.
As metáforas que Artaud utiliza para descrever sua aflição interna e intelectual tratam a mente, ou como uma propriedade da qual não se consegue jamais adquirir a posse (ou cuja posse se perdeu), ou como uma substância física que é intransigente, fugitiva, instável.
Obscenamente mutável. Em 1921, aos 25 anos de idade, expõe suas dificuldades como sendo o de nunca conseguir possuir "seu espírito" na totalidade. Lamenta que suas ideias o "abandonaram", que ele não logra alcançar sua mente, que "perdeu" sua compreensão das palavras e "esqueceu" as formas de pensamentos.
Em linguagem mais direta vocifera contra a erosão crônica de suas ideias, o modo como seu pensamento desintegra-se sobre ele ou se esvai: descreve sua mente como fissurada, deteriorando-se, vazia, impenetravelmente densa: as palavras apodrecem.
Artaud sofre não apenas com a dúvida sobre o que seu "eu” pensa, mas também pela convicção de que não possui seu próprio pensamento.
"Verdadeira dor", dia Aratud "é sentir o próprio pensamento mudar dentro de nós mesmos." A inteligência, observa Artaud com horror, é a mais pura contingência.
A obra de Antonin Artaud inclui verso, prosa, roteiro para filmes, textos sobre cinema, pintura e literatura; ensaios, críticas corrosivas e polêmicas sobre o teatro, o manicômio e o poder médico. Os manicômios são recipientes premeditados e conscientes de magia negra por meio de suas terapias híbridas e inoportunas, mas também por eles praticarem a magia.
"Se não existissem médicos não existiriam doentes, para serem esfolados e retalhados. Porque a sociedade não começou com os doentes, mas com os médicos. É quase impossível ser ao mesmo tempo médico e uma pessoa honesta..."
Artaud chegou a realizar várias peças de teatro, entre as quais uma ópera; e aparições radiantes em dois grandes filmes (O Napoleão de Gance e A paixão de Joana d'Arc de Dreyer). O que ele legou à posterioridade não são essencialmente obras de arte completas, mas uma presença singular; uma poética, uma estética do pensamento, uma teologia da cultura, uma fenomenologia do sofrimento, uma teoria da loucura.









Ler o conto: O Marido Padre - Marquês de Sade


Sade entre demônios, numa ilustração de 1912. O autor passou um terço da vida na prisão.

Em o Marido Padre - Conto Provençal, integrante do livro de Contos Libertinos, o escritor Francês combina o sagrado e o profano.A historia do comerciante Rodin, que celebra uma missa no lugar do padre Gabriel como um favor, sem saber que o religioso tem um caso com sua mulher, mostra o desejo de transgressão de ambos e a inversão de posicionamento de poder. O ingênuo comerciante deseja esperimentar a possibilidade se usurfruir os privilégios dos religiosos, mesmo que aparentemente mostre receio. Já o padre galanteador quebra o celibato do amigo. A violação dos tabus socias da época faz com que não haja ofensor e ofendido, já que ambos estão imersos na experimentação do proibido. O padre é o mentor da inversão de poderes e cria uma situação em que qualquer possibilidade de interdição aos desejos pela mulher de Rodin é desfeita. Quando parecia suficientemente chocante o comportamento do padre, Sade vai além. Ele questiona o mistério da concepção do próprio cristo por meio de uma comparação subliminar entre a mulher de Rodin e a Virgem Maria, que recebeu a visita do anjo Gabriel - intencionalmente o mesmo nome do padre do conto - e que lhe informou sobre sua gravidez. Com prega a igreja, a Virgem Maria engravidou por obra do Espirito Santo, e Sade faz a historia se contaminar com o gosto pelo desejo carnal.



SERENDIPITY
DÉA TRANCOSO




    Ontem a noite chegando em casa encontrei uma correspondência, e qual foi a minha surpresa, era o tão esperado cd "Serendipity" desta grande artista brasileira, Déa Trancoso. Conheci Déa através do seu canto, em 2003, quando de passagem por Belo Horizonte para realizar um trabalho. Nesta ocasião caiu em minhas mãos o cd "O violeiro e a cantora" uma parceria dela com o violeiro Chico Lobo. No cd ela canta uma linda moda de viola "A manteiga e o pão", que logo em seguida, eu também gravei, movido pela poesia da canção e pelo canto embriagado, misterioso e arrebatador de Déa. Um tempo depois, Déa grava "Tum Tum". Novamente me debruço sobre uma obra deslumbrante e que mais uma vez me inspira. Gravei "Passarinho pintadinho", um tema de domínio público, magistralmente revisitado pela nossa linda cantora.
   Serendipity é um raro disco, de uma artista ciente do seu ofício e avessa a concessões. Me deixou extasiado após ouvi-lo. Por um breve momento tive a sensação que seria tragado pelo universo.
   A voz misteriosa e profunda de Déa, os violões, as violas e as guitarras de Rogério Delayon desenham um plasma sonoro que só encontro similaridade no mistério e nos claros e escuros da pintura de Rembrandt. É uma equação lindíssima. É um jato de luz sobre a canção brasileira.
   Na medida em que se trata de um disco profundo e denso, ao mesmo tempo, ele nos sugere imagens com simplificação de ideias. São tão intensas as descobertas, que seria por demais complicado sintetizá-las em uma opinião.
  Vou me retirar para ouvir novamente o cd. São 10:47 da manhã. Peço licença para apertar novamente o play no disco.
    Espero que todos vocês possam também se deliciar com essa maravilha de música.
Prá você Déa querida amiga, muita sorte pela vida afora.
Vamos nos ver em breve como haviamos combinado?





E FORAM TODOS PARA PARIS
UM GUIA DE VIAGEM NAS PEGADAS DE HEMINGWAY, FITZGERALD E CIA




"A América é minha terra, mas Paris é minha casa"
Gertrude Stein

Milhares de cidadãos de outras nacionalidades fizeram de Paris uma festa, como reconheceu um dos seus mais célebres convivas, o escritor Ernest Hemingway. Através desse guia podemos entrar em contato com as vidinhas antológicas de pessoas do porte de Josephine Baker, Sylvia Beach, Samuel Beckett, Constantin Brancusi, Georges Braque, André Breton, Coco Chanel, Jean Cocteau, Colette, E.E.Cummings, John Dos Passos, Marcel Duchamp, Isadora Duncan, T.S. Eliot, F. Scott Fitzgerald, George Gershwin, Vaslav Nijinki, Pablo Picasso, Cole Porter, Ezra Pound, Erik Satie, Igor Stravinski e um longo etc. E a escritora norte-americana Gertrude Stein, para quem uma rosa era uma rosa e Paris não é menos que um roseiral ao qual impunha as regras de seu jogo estético-mundano.
Era Gertrude Stein quem chamava a atenção de Picasso, acusando-o de não ter estimado realmente o pintor espanhol Juan Gris, cubista até a morte, em 1927. Garantia que os judeus só deram três gênios originais: Cristo, Spinoza e ela. O contra-ataque vinha pesado, pela boca de Matisse - "ela não entendia nada de arte"-  ou de Braque - "para alguém que posa de autoridade, convém dizer que ela nunca passou do estágio de turista". A desfazer essas palavras estava o fato de ter sido Gertrude Stein uma das primeiras pessoas a comprar e promover Matisse, Picasso e Braque - e também Gris, a quem dedicou "The Life and Death of Juan Gris".

Para complementar a leitura do livro acima indicado, procurem conhecer também:
OS ANOS LOUCOS
PARIS NA DÉCADA DE 20



Paris não chama ninguém, mas deixa supor que o faz; desde sempre se deixa cantar. É uma grande dama, não vive sem a trova e o trovador. Dama e manancial, ela é uma ilusão sem a qual o Ocidente não existiria e é exatamente por isso que, malgrado a ordem de Hitler, não foi explodida pelos alemães.

Me aproprio das citações de Julio Cortázar e de Jacques de Lacretelle respectivamente, para definir o que sinto por Paris:

"Ando pelas ruas de Paris sempre olhando ao redor. Quando volto para casa, trago comigo uma espécie de quadro debaixo do braço, formado por sons, cores e odores. A cidade é mais do que casas habitadas, é um código à espera que o decifrem."

"Admirar Paris é possível para todo mundo. Amar Paris é uma arte cuja ciência adquirimos progressivamente. Casa-se com a nossa maneira de ser e se confunde pouco a pouco com nosso instinto de felicidade."



DZI CROQUETTES
UM DOCUMENTÁRIO DE TATIANA ISSA E RAPHAEL ALVAREZ






   Sinônimo de vanguarda, combinando teatro, música, dança, irreverência e escracho, os Dzi Croquettes deixaram a sua marca por onde passaram.
   "Dzi Croquettes", o documentário dirigido por Tatiana Issa e Raphael Alvarez, vai fundo na ascenção e desintegração do grupo que deixaram suas marcas até hoje no cenário cultural. O filme investiga o papel desses artistas no momento histórico - social do Brasil nos dias mais duros da ditadura militar. Eles eram fascinantes, bonitos, engraçados e irreverentes, Se anteciparam a tudo e a todos. A codiretora, que assina também o roteiro, diz que para ela, esses homens coloridos, cheios de purpurina e cílios postiços enormes eram "como palhacinhos que enfeitavam a sua vida".
   O filme sabiamente nunca destaca uma única figura, mas mostra os Dzi como um todo, investigando um a um seus membros, suas tragetórias e trazendo depois muitos daqueles que ainda estavam vivos.
   As atrizes Marilia Pera, Beth Farias, Maria Zilda, Claudia Raia falaram de suas experiências com eles.
   Depoimentos de Giberto Gil, Nelson Mota, Miguel Falabella, Ney Matogrosso e Norma Benguel enriquecem o documentário.
   A cantora e atriz norte-americana Lize Minelli, uma espécie de madrinha do grupo, dá depoimento dos mais calorosos e afetivos. Foi graças a Lize que os Dzi tomaram Paris, transformando-se num grande sucesso na capital francesa.
   Membros principais do grupo, Claudio Towar, Ciro Bacelos, Bayard Tonelli, Rogerio de Poly e Benedito Lacerda relembraram seus dias de Dzi e o que o grupo representou para o cultura brasileira.
   Há um especial destaque para a presença de Lennie Dale, que foi um dos principais mentores e uma figura extrovertida e fulgurante. Lennie tem notável contribuição a música brasileira (criou, por exemplo, a coreografia para dançar a Bossa Nova). Momento lindo do documentário. Lennie e Elis cantando e dançando juntos: "Me deixe em paz". Um árduo trabalho de interpretação e de dança.
   Figurinos ousados, maquiagem pesada e o contraste de corpos masculinos em trajes femininos imprimem ao espetáculo tons de grotesco, de deboche e espírito ferino.
   Para  algumas gerações, assistir ao documentário "Dzi Croquettes" é um mergulho num passado quase imaginável - uma época de deboche, irreverência e criatividade. Para quem conheceu o grupo, o filme é uma viagem nostálgica no tempo.
   "Nem homem. Nem mulher. Gente". Assim se definiam os Dzi Croquettes.
   O filme de Tatiana e Alvarez é uma celebração do espírito artístico indomável, da força - da beleza que existe na arte de contestar com bom humor.
   Um filme feito com tanta delicadeza, não há como nos afetar. Fiquei afetado e impressionado.




A PAIXÃO SEGUNDO SÃO MATEUS
JOHANN SEBASTIAN BACH


DESCRIÇÕES SONORAS DÃO O TOM DE UMA OBRA-PRIMA EM QUE PALAVRAS BIBLICAS E DIÁLOGOS POÉTICOS SÃO ENTOADOS

Se para o escritor Mário de Andrade, Johann Sebastian Bach é a sintese de seis séculos de música, para o francês Claude Debussy, Bach é o Deus da música. A Paixão Segundo São Mateus é dividida em duas grandes partes, com 68 números - recitativos, couros, ariosos, 15 corais e 23 árias. O texto da obra mescla a palavra biblica, a poesia contemplativa e os corais protestantes entoados na Quaresma, incluídos para simbolizar a participação dos fiéis na paixão.
De acordo com o crítico suíço Fran Rueb, no livro 48 Variações sobre Bach,  A Paixão Segundo São Mateus é "compaixão, caminho compartilhado, apoio nas horas difíceis". Para o autor, as trágedias da Antiguidade e as Paixões de Bach são obras que se mantêm válidas para qualquer sociedade e qualquer cultura. Bach trabalhou de acordo com os preceitos religiosos estabelecidos para uma Paixão, ao mesmo tempo que estravasou linhas mestras. Sua música estava muito à frente do que as autoridades ecleziásticas eram capazes de compreender.



LOUISE BOURGEOIS
DESTRUIÇÃO DO PAI
RECONSTRUÇÃO DO PAI







Artista francesa que foi radicada nos EUA, considerada uma das mulheres mais influente na arte, neste livro fala do seus demônios.
   Em uma das entrevistas que li da artista, ela adverte ao reporter: "Pare de fazer perguntas estúpidas". Para logo em seguida começar a dizer que: "A arte é uma garantia de sanidade e, uma maneira de exorcizar demônios pessoais. Mas a terapia também funciona. Um artista sempre pode melhorar depois da terapia. Eu carrego a psicanálise dentro do meu trabalho. Coloco nele tudo que me incomoda".
   Uma das esculturas de Louise Bourgeois trazidas a uma das bienais de São Paulo foi Destruição do Pai, descrita como uma metáfora edipiana do jogo amoroso.
   Neste livro, Bourgeois praticamente define a si prórpria e a sua obra, por meio de entrevistas, fragmentos de diários, cartas e outros escritos.
   Conhecida no Brasil por obras como "Spider", uma imensa aranha exposta na Bienal de São Paulo de 1996 e que entrou para o acervo do MAM, no Ibirapuera, ela declara em uma de suas entrevistas: "Meu tema constante tem sido a arte como um modelo terapêutico. Não quero que nada se esvaneça e quero ser tão clara quanto o cristal. Ainda tenho medo do esquecimento".
   No seu livro fala de vida e ai reside sua grande qualidade. Acompanhamos relatos de uma artista sensível e mulher de apurada inteligencia que se apropriou da arte para exorcizar fantasmas e demônios infantis. Entrar nesse mundo íntimo da autora amplia ainda mais a sensação de angústia contida que sentimos ao longo do livro. À medida que a leitura avança, a sensação de estar invadindo a privacidade da artista só faz crescer. Sua racionalização em torno da questão paterna deriva diretamente das teorias freudianas. As pulsões de destruição e adoração do objeto amado são o tema central de sua produção. Deixa claro que o que importa na sua obra é o discurso em processo e não a imagem, que é fruto no mergulho cada vez mais profundo no inconsciente. Sobre isso arremata: "O alto conhecimento torna os artistas melhores artistas".
   O livro é revelador de outras questões que vão além do trabalho e da vida de Louise, como nas passagens em que fala sobre as falsas questões que dominam o glamouroso mundo das artes e da fama.
   Ser artista para ela é "encontrar um modo de sobrevivência". E é esta sua atitude artística, de enfrentamento da arte como forma de vida, ou da vida como forma de arte, que a coloca no centro da cena da arte contemporânea. Percebe-se que para Bourgeois a significação da obra é também processo. A artista reatualiza constantemente a leitura que tem de seu próprio trabalho, revisto à luz de novos conhecimentos adquiridos, em face das mudanças da cena artística e, o mais importante, segundo uma permanente auto-análise.
   Assim, Louise é a autora/artista, que recicla suas experiências de vida em arte. Desconstruindo suas experiências primordiais, como a de sua relação com seu pai, e reconstruindo-as pela arte ela reprocessa o nosso entendimento da arte sem complicações, a partir de um texto inteligente e elegante, que nos leva de fato a enxergar a deliberação do processo de criação. 

Em Outubro tive a oportunidade de visitar no MAM, Rio de Janeiro a exposição: Louise Bourgeois - O Retorno do Desejo Proibido. Um amplo panorama da produção da artista, constituido por desenhos, objetos, pinturas e instalações concebidas de 1942 a 2009. Um lindo catálogo produzido pelo Instituto Tomie Ohtake e Fundação PROA, acompanha a exposição. Tentaremos em um outro momento, no link Cenas e Imagens publicarmos uma breve amostra virtual de algumas das obras que compuseram a exposição.



MORTE EM VENEZA
LUCHINO VISCONTI







   Obra musicada pelas sinfonias de Gustav Mahler, discuti a existência através da vida de um artista em crise.
O diretor italiano consegue transpor para a tela uma das obras máximas de Thomas Mann, escrita em 1912. Densa e descritiva, cuja força nasce do volume do texto. O que é tratado em palavras na obra, o cineasta transforma em imagens e trilha sonora.
   É a trilha sonora, aliás, a grande força deste clássico de Visconti que se apropria das 3ª e 5ª Sinfonias de Gustav Mahler para desenvolver o sofrimento de Aschenbach. Ele é o téorico rigoroso que defende a existência de uma beleza suprema e o papel do artista como seu grande recriador. Em Veneza ele se depara com um garoto andrógino, Tadzio, que seria a encarnação suprema da perfeição.
   Visconti, além de se inspirar nos diálogos entre os compositores Mahler e Schoenberg para compor Aschenbach, o pensamento dos filósofos Friedrich Nietzsche e Arthur Schopenhauer são outras referências na discussão estética desenvolvida no correr da história.
   Uma poesia em forma de cinema que começa e termina no mar.
  

AS AVENTURAS DE ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
LEWIS CARROLL





Um coelho de cartola passa correndo, de olho no relógio: "Oh, céus! Vou chegar atrasado." E a curiosa Alice o segue. Entra numa toca que se alça sobre um imenso precipício, tão profundo que ela acaba caindo no sono durante a queda, Mais adiante, Alice conversa com um bando de aves e animais sem que, por um instante, a situação lhe pareça inaceitável ou absurda.
As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, publicada em 1865 é um percurso onírico através dos devaneios do escritor inglês Lewis Carroll, homem tímido e tão peculiar quanto a sua obra mais famosa, que revolucionou o conceito de literatura infantil.
No livro, Carroll descreve um sonho de uma menina numa terra imaginária e seu contato com as mais estranhas criaturas, entre as quais, o Coelho Branco, o Chapeleiro Maluco e o Rei e a Rainha de Copas, que satirizam a sociedade vitoriana. O nonsense e o absurdo pontuam a obra, na qual fatos psicológicos são tratados como fatos objetivos. "O não existente, os animais que falam, os seres humanos em situações impossíveis, tudo é considerado como admitido e o sonho não é pertubador". Observa Florence Becker Lennon, biógrafa do autor.
Outro aspecto relevante reside na linguagem. O texto é inteiramente pontuado por brincadeiras verbais, sátiras, charadas, anagramas, epigramas, desafios de lógica, jogos matematicos e alusões filosóficas. A obra permite inumeras interpretações. Surrealistas, como o pintor catalão Salvador Dalí e o escritor francês André  Breton viram em Carroll um precursor de sua estética.



Assim fala Manoel de Barros: "Tudo que não invento é falso", "Repetir, repetir, repetir até ficar diferente."
SÓ DEZ POR CENTO É MENTIRA é um preciosíssimo adentramento cinematografico na biografia inventada e na poética fantástica do gênio matogrossense das palavras Manoel de Barros. A pelicula vai além das fronteiras tradicionais do registro documental. Se apropria de uma linguagem visual inventiva, empregando dramaturgia, criando elementos ficcionais, ao mesmo tempo que propõe grafismos alusivos ao universo encantado e extraordinário do poeta.
Um filme simples, delicado e absolutamente emocionante e arrebatador.
Um filme de Pedro Cezar.
Indico a todos aqueles enredados nos processos de criação e na magia de encantamento e produção da palavra.




Um dos mais intrigantes romances da literatua brasileira, foi eleito também um dos cem maiores de todos os tempos.

Grande Sertão: Veredas é uma narrativa em primeira pessoa de Riobaldo pelo sertão mineiro. O livro é um bloco de texto inteiriço, sem divisão em capítulos. Se de início a leitura pode parecer custosa, aos poucos a jornada pelo sertão, transforma-se numa aventura prazerosa, recheada de descrições e dotadas de grande vitalidade. Riobaldo anceia por negar a existência do demônio, com quem fez um pacto para derrotar o jagunço do bando rival, Hermógenes. Narradas num português como que novo, pois reinventado, suas aventuras atingem um clímax na relação ambígua com Diadorim ("Diadorim é minha neblina", diz ele), Travestido de jagunço, o companheiro de Riobaldo é, na verdade, uma mulher valente e impiedosa. Nesse universo quase mítico, a dimensão única, poética e alquímica da linguagem, que desintegra as fronteiras entre narrativa e lírica, é um convite irrecusável à viagem pelas palavras.

Tenho sempre a necessidade de revisitar esse romance. A sua leitura produz um enorme impacto na minha vida, na minha profissão, no meu semblante, no meu acontecer no mundo.

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