- Um método, clínicas plurais.
Ao
longo de todos esses anos de construção do MTOD no CETO, sempre objetivamos que
este se constituísse como um Método para a Terapia Ocupacional independente da
área de atuação proposta.
Um
Método generalista que não possuísse fronteiras em sua aplicabilidade.
Um
Método singular para uma clínica que por definição é plural.
Pois
plural é a demanda da população alvo da Terapia Ocupacional, composta pelos
necessitados, excluídos, desviantes, pelos contrapontos.
População
que se caracteriza por viver ou estar em realidades plurais, marcada pelo
sofrimento, pelas desorganizações, pelas faltas físicas, psíquicas, sociais,
pelas diferenças e diversidades.
Plurais
também são as atividades que nos utilizamos, desde que inseridas na dimensão
triádica: da pintura à culinária, dos passeios aos exercícios, dos manuseios á
dança, da informática aos teares, do ouvir música a tocar algum instrumento, da
leitura ao estudo, da conversa à escrita, do arrumar o quarto a cuidar de suas
próprias contas, dos artesanatos à confecção de um curriculum.
Uma
clínica plural que requer que nosso setting também o seja, uma vez que este deve
ser entendido em sua dimensão subjetiva
para além do lugar do atendimento, da sala de terapia ocupacional, com seus
materiais, atividades, a terapeuta, o grupo, já que podemos levá-lo para
qualquer lugar desde que exista no mínimo uma relação triádica: a casa
do paciente, a rua, a padaria, a lanchonete, o shopping, a loja de materiais
para fazer as atividades, o leito de uma enfermaria.
Esta pluralidade da
clínica nos impõe a necessidade de
encontrar soluções singulares para cada um dos sujeitos alvos de nossa
intervenção clínica.
O
singular de cada caso clínico de terapia ocupacional, a partir da concepção do
MTOD, não deve ser dedutível a um entendimento teórico nem a um diagnóstico
pré- estabelecido.
Para
tanto fazermos uso do diagnóstico situacional em terapia ocupacional, levando
em conta além dos diferentes entendimentos sobre sua condição física, psíquica,
social e familiar a repercussão que tudo isso faz na vida de nossos pacientes, acolhendo
e valorizando os movimentos, as particularidades, as maneira de ver, sentir e
reagir, próprias de cada um.
Assim,
Benetton e Goubert, afirmam:
“É
encargo de a terapeuta ocupacional definir as condições e a natureza de cada
caso. Na singularidade de uma assistência que ocorre no material e no não
material, reside a responsabilidade clínica da terapeuta ocupacional. Assim
sendo, o que é ético deve ser definido a cada momento em cada situação” (Benetton
e Goubert, 2002).
Atributos,
traços e déficits podem, portanto, ser definidos como desejáveis, indesejáveis,
bons, maus, vantajosos ou desvantajosos dependendo da forma como são vividos e
experimentados pelo sujeito, não se definindo por si.
Continuando a refletir sobre a ética na
clínica encontramos em Cavalcanti a seguinte proposição:
“Saímos,
assim, do campo das determinações para o das contingências e do particular; saímos
do campo do imutável, para o da mutação contínua; do campo das identidades, em
que traços, puras marcas de diferenças, são tomados como definidores
essenciais, para o campo das identificações, em que as marcas da diferença não
são mais do que expressões de singularidade; do campo das relações de
subordinação e dominação para o das relações recíprocas, indispensáveis para o
exercício da liberdade, da autonomia e da criatividade.” (Cavalcanti, 2003)
Essa
saída é fundamental, pois nos encontramos com “sujeitos cuja escritura de si
começa e acaba pela expressão do verbo articulado ao não”. (Benetton e Goubert,
2002)
Portanto
um dos pressupostos do MTOD é a construção de narrativas que positivem esses
modos de existência.
O
sujeito alvo de nossas intervenções habita histórias que muitas vezes foram
tecidas sem o emaranhado que as concerne.
Histórias interrompidas, histórias mal contadas, histórias sem sentido,
que não lhe dizem respeito. Para construí-las ou reconstruí-las parece-nos essencial que a terapeuta
ocupacional saiba contá-las.
Sustentada
na relação triádica a terapeuta ocupacional faz uso dos procedimentos do MTOD,
das trilhas associativas, ajudando a tecer os fios que enredam e se desenredam
em outros, fazendo com que o sujeito alvo se aproprie de sua própria história,
criando possibilidades de novas organizações em seu cotidiano, caminhando em
direção ao social.
Nestas
mesas, nossas colegas vão contar histórias dessa clínica do sensível, das
diferenças, por vezes do estranhamento; uma clínica que na maioria das vezes
inventa possibilidades ao invés de criá-las.
· Apresentado na mesa de abertura do
IV Fórum Clínico de Terapia Ocupacional do Centro de Especialidades em Terapia
Ocupacional - CETO, São Paulo, ano 2007.
**Diretora do CETO- Centro de Especialidades em Terapia
Ocupacional
Diretora do
Instituto “A CASA".