quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Um método, clínicas plurais.


  • Um método, clínicas plurais.
          **Sonia Ferrari
    Ao longo de todos esses anos de construção do MTOD no CETO, sempre objetivamos que este se constituísse como um Método para a Terapia Ocupacional independente da área de atuação proposta.
Um Método generalista que não possuísse fronteiras em sua aplicabilidade.
Um Método singular para uma clínica que por definição é plural.
Pois plural é a demanda da população alvo da Terapia Ocupacional, composta pelos necessitados, excluídos, desviantes, pelos contrapontos.
População que se caracteriza por viver ou estar em realidades plurais, marcada pelo sofrimento, pelas desorganizações, pelas faltas físicas, psíquicas, sociais, pelas diferenças e diversidades.
    Plurais também são as atividades que nos utilizamos, desde que inseridas na dimensão triádica: da pintura à culinária, dos passeios aos exercícios, dos manuseios á dança, da informática aos teares, do ouvir música a tocar algum instrumento, da leitura ao estudo, da conversa à escrita, do arrumar o quarto a cuidar de suas próprias contas, dos artesanatos à confecção de um curriculum.
    Uma clínica plural que requer que nosso setting também o seja, uma vez que este deve ser entendido em sua dimensão subjetiva para além do lugar do atendimento, da sala de terapia ocupacional, com seus materiais, atividades, a terapeuta, o grupo, já que podemos levá-lo para qualquer lugar desde que exista no mínimo uma relação triádica: a casa do paciente, a rua, a padaria, a lanchonete, o shopping, a loja de materiais para fazer as atividades, o leito de uma enfermaria.
    Esta pluralidade da clínica nos impõe a necessidade de encontrar soluções singulares para cada um dos sujeitos alvos de nossa intervenção clínica.  
O singular de cada caso clínico de terapia ocupacional, a partir da concepção do MTOD, não deve ser dedutível a um entendimento teórico nem a um diagnóstico pré- estabelecido.
    Para tanto fazermos uso do diagnóstico situacional em terapia ocupacional, levando em conta além dos diferentes entendimentos sobre sua condição física, psíquica, social e familiar a repercussão que tudo isso faz na vida de nossos pacientes, acolhendo e valorizando os movimentos, as particularidades, as maneira de ver, sentir e reagir, próprias de cada um.
Assim, Benetton e Goubert, afirmam:
    “É encargo de a terapeuta ocupacional definir as condições e a natureza de cada caso. Na singularidade de uma assistência que ocorre no material e no não material, reside a responsabilidade clínica da terapeuta ocupacional. Assim sendo, o que é ético deve ser definido a cada momento em cada situação” (Benetton e Goubert, 2002).
Atributos, traços e déficits podem, portanto, ser definidos como desejáveis, indesejáveis, bons, maus, vantajosos ou desvantajosos dependendo da forma como são vividos e experimentados pelo sujeito, não se definindo por si.
   Continuando a refletir sobre a ética na clínica encontramos em Cavalcanti a seguinte proposição:
    “Saímos, assim, do campo das determinações para o das contingências e do particular; saímos do campo do imutável, para o da mutação contínua; do campo das identidades, em que traços, puras marcas de diferenças, são tomados como definidores essenciais, para o campo das identificações, em que as marcas da diferença não são mais do que expressões de singularidade; do campo das relações de subordinação e dominação para o das relações recíprocas, indispensáveis para o exercício da liberdade, da autonomia e da criatividade.” (Cavalcanti, 2003)
    Essa saída é fundamental, pois nos encontramos com “sujeitos cuja escritura de si começa e acaba pela expressão do verbo articulado ao não”. (Benetton e Goubert, 2002)
    Portanto um dos pressupostos do MTOD é a construção de narrativas que positivem esses modos de existência.
    O sujeito alvo de nossas intervenções habita histórias que muitas vezes foram tecidas sem o emaranhado que as concerne.  Histórias interrompidas, histórias mal contadas, histórias sem sentido, que não lhe dizem respeito. Para construí-las ou reconstruí-las parece-nos essencial que a terapeuta ocupacional saiba contá-las.
     Sustentada na relação triádica a terapeuta ocupacional faz uso dos procedimentos do MTOD, das trilhas associativas, ajudando a tecer os fios que enredam e se desenredam em outros, fazendo com que o sujeito alvo se aproprie de sua própria história, criando possibilidades de novas organizações em seu cotidiano, caminhando em direção ao social.
     Nestas mesas, nossas colegas vão contar histórias dessa clínica do sensível, das diferenças, por vezes do estranhamento; uma clínica que na maioria das vezes inventa possibilidades ao invés de criá-las. 


·       Apresentado na mesa de abertura do IV Fórum Clínico de Terapia Ocupacional do Centro de Especialidades em Terapia Ocupacional - CETO, São Paulo, ano 2007.

**Diretora do CETO- Centro de Especialidades em Terapia Ocupacional
    Diretora do Instituto “A CASA".





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