quinta-feira, 10 de maio de 2018

Ética da Razão Cínica ou Moral by Technicolor


Nunca neste país se falou tanto em ética e moral quanto nos dias atuais. A imprensa a cada dia denuncia transgressões éticas ocorridas no bojo da sociedade. E as manifestações públicas em torno de um comportamento ético têm aumentado consideravelmente. A nossa preocupação e ação em torno de um comportamento ético se justificam. A ética, uma mercadoria de primeira necessidade para a saúde moral de qualquer país, parece ter sido expulsa do poder, se é que ela ali chegou a estar alguma vez.
Atravessamos uma crise ou um período, melhor dizendo, de profunda deterioração dos valores éticos e morais antes vigentes, ou, senão, pelo menos referidos como tal. Em todos os níveis assiste-se uma despudorada e vergonhosa exposição de escândalos, mentiras deslavadas, corrupção de todos os tipos vinda justamente do seio do exercício do poder, ou seja: de onde se demanda liderança e norma, se encontra a perversão da lei.
É como se as nossas instituições pudessem passar por uma genética onde a patologia se transforma em norma e o desvio em regra.
Parece consenso na opinião pública nacional que estamos vivendo dias difíceis. Vivemos, hoje, no país do cinismo, da impunidade e da irresponsabilidade. Da destruição das noções de valor, da derrocada da ordem moral, da licenciosidade, do desrespeito, do império do mais forte, do mais esperto, do aventureiro, enfim, do anti-valor.
Nós, brasileiros, somos um povo que não consegue mais crer. Vivemos hoje no país da descrença. O que houve? É como se os indivíduos no Brasil estivessem se tornando socialmente e moralmente supérfluos. Eles nada valem enquanto cidadãos, pessoas que têm responsabilidades. Ao contrário, são postos em situação de desqualificação e de tutela. Daí, o que observamos? De um lado, o egoísmo, a busca ilimitada da autossatisfação, num projeto permanente individualista de bem viver, o permissivismo que corrói os valores e padrões morais. E do outro, as consequências de tudo isso registradas na violência, na deterioração das relações sociais pela corrupção ou a mentira, na exploração do homem nas relações de trabalho, na manipulação das consciências e mentalidades pelo poder dos meios de comunicação.
Este conjunto de situação define, de certo modo, a lógica do homem e da sociedade brasileira funcionar: a lógica da expansividade, do individualismo, do livre arbítrio, do obscurantismo, das minorias espertas e organizadas.
Pessoas lançadas nesse fosso moral, passam a descrer das leis, valores, regras, ética e compromissos. A lei, sendo torpedeada, todo o universo simbólico se desmorona. Tornando-nos, todos, homens sem pudor. Há lei e sua violação simultânea como fato tácito, consumado. Somos assaltados, explorados, avançamos sinais, burlamos o imposto de renda, que, por sua vez, parece que se instala de forma a ser burlado, compramos no muambeiro, damos propinas aos cartório e por aí vai...
Estamos bem perto do estágio onde, como anedota celebrizada por BRECHT, fica difícil distinguir um assalto a um banco da fundação de um banco.
Por mais incômodo que seja, é impossível não ver no Brasil o banditismo ocupando as brechas deixadas por um estado castrado e uma sociedade desorganizada. Da economia paralela ao tráfico de drogas, por todo canto respiramos a presença inquietante desta ilegalidade a céu aberto. Sem contar com os sintomas menores, como a circulação de personagens de nossas elites que passam das colunas sociais às páginas policiais, ostentando risos de chá das cinco. A delinquência, hoje, não se contenta mais em frequentar a periferia do poder, como sempre fez. Instalou-se na sala de visitas. E daqui a pouco, quem garante, em vez de hóspede pode querer tornar-se anfitriã.
Amém para todos nós.

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