Se toquem julgadores e avaliadores...Julgar implica em : ser ético ,
ter conhecimento, ser isento e , sobretudo não pertencer ao feudo... A
PROPÓSITO DO QUE ONTEM PRESENCIEI EM UMA DIVULGAÇÃO. UMA CANTORA ( que
supostamente cantava ) E UM MÚSICO (que supostamente acompanhava), tentando
desenvolver um deslumbrante tema do cancioneiro brasileiro. LAMENTÁVEL !
DESASTROSO ! O que penso ... o que estudei ... o que aprendi e o que a
experiência tem apontado-me : --- No caso da canção brasileira,em que há uma
relação tão rica entre poesia e música, e a poesia incorpora os ritmos da
fala, quem acompanha precisa mesmo respirar junto com o canto. As palavras
têm seu ritmo. O que está sendo dito importa mais do que tudo, e é preciso
achar não só o jeito , mas o tempo certo de dizer. Ou melhor : os tempos: de
cada palavra, isolada, e da intenção geral do canto. Superfície e fundo.São
dois tempos, então, mas há ainda um terceiro. Esse está fora da música, no
sentido formal. Mas não no sentido humano. Porque a música não se restringe
às notas de cada peça , nem a um conjunto de obras. Fazer música envolve
achar ou construir certa disponibilidade, que implica descobrir ou inventar
outro tempo, também. Cantar e tocar é se dar para esse outro tempo. O que,
aliás, ajuda a explicar porque, depois de tanto estudo e tanto ensaio, depois
de tanto show , depois de tanta entrega, o que fica enfim de mais precioso
para músicos, cantores e intérpretes não é propriamente a música. O que fica
é algo de mais intangível, ´tão sutil e concreto como o tempo. Dizer que o
que fica somos nós pode soar simplório ou presunçoso, mas se aproxima do que
pede para ser dito. Porque o que fica, afinal, da música, não são as notas,
não são as músicas, nem as imagens e sensações, toda a verdade e a vaidade de
subir num palco para fazer música. O que fica são os encontros, musicais e
humanos. Nós somos o resultado. O que fica não são só melodias e harmonias. O
que fica são afetos, criados e trocados por ocasião e sob o signo da
música.São sentimentos e sensações , iluminações num outro tempo, que a
música faz nascer e perceber, para além de seu próprio encantamento. O que a
música nos dá de mais raro são essas aberturas, essa respiração. Um tempo da
vida vivida, tempo vivo. É só nesse tempoque a música pode chegar a si - o
que significa sair de si, para nos tirar das mil e uma abstrações cotidianas,
incluindo a própria prática da música. Nesse tempo toda a ficção da vida se
desmancha. Não dura, nem tem como durar. Mas nesse tempo , adivinhado a cada
vez, mesmo se nem sempre ao nosso alcance, a música nos ensina a viver.
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