quinta-feira, 10 de maio de 2018

JULGAR IMPLICA EM...

Se toquem julgadores e avaliadores...Julgar implica em : ser ético , ter conhecimento, ser isento e , sobretudo não pertencer ao feudo... A PROPÓSITO DO QUE ONTEM PRESENCIEI EM UMA DIVULGAÇÃO. UMA CANTORA ( que supostamente cantava ) E UM MÚSICO (que supostamente acompanhava), tentando desenvolver um deslumbrante tema do cancioneiro brasileiro. LAMENTÁVEL ! DESASTROSO ! O que penso ... o que estudei ... o que aprendi e o que a experiência tem apontado-me : --- No caso da canção brasileira,em que há uma relação tão rica entre poesia e música, e a poesia incorpora os ritmos da fala, quem acompanha precisa mesmo respirar junto com o canto. As palavras têm seu ritmo. O que está sendo dito importa mais do que tudo, e é preciso achar não só o jeito , mas o tempo certo de dizer. Ou melhor : os tempos: de cada palavra, isolada, e da intenção geral do canto. Superfície e fundo.São dois tempos, então, mas há ainda um terceiro. Esse está fora da música, no sentido formal. Mas não no sentido humano. Porque a música não se restringe às notas de cada peça , nem a um conjunto de obras. Fazer música envolve achar ou construir certa disponibilidade, que implica descobrir ou inventar outro tempo, também. Cantar e tocar é se dar para esse outro tempo. O que, aliás, ajuda a explicar porque, depois de tanto estudo e tanto ensaio, depois de tanto show , depois de tanta entrega, o que fica enfim de mais precioso para músicos, cantores e intérpretes não é propriamente a música. O que fica é algo de mais intangível, ´tão sutil e concreto como o tempo. Dizer que o que fica somos nós pode soar simplório ou presunçoso, mas se aproxima do que pede para ser dito. Porque o que fica, afinal, da música, não são as notas, não são as músicas, nem as imagens e sensações, toda a verdade e a vaidade de subir num palco para fazer música. O que fica são os encontros, musicais e humanos. Nós somos o resultado. O que fica não são só melodias e harmonias. O que fica são afetos, criados e trocados por ocasião e sob o signo da música.São sentimentos e sensações , iluminações num outro tempo, que a música faz nascer e perceber, para além de seu próprio encantamento. O que a música nos dá de mais raro são essas aberturas, essa respiração. Um tempo da vida vivida, tempo vivo. É só nesse tempoque a música pode chegar a si - o que significa sair de si, para nos tirar das mil e uma abstrações cotidianas, incluindo a própria prática da música. Nesse tempo toda a ficção da vida se desmancha. Não dura, nem tem como durar. Mas nesse tempo , adivinhado a cada vez, mesmo se nem sempre ao nosso alcance, a música nos ensina a viver.

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