quinta-feira, 10 de maio de 2018

MORRER DE VIDA E VIVER DE MORTE...


Quero dedicar esse texto a todos àqueles que me enviaram mensagens afetuosas e reconfortantes , pelo falecimento do meu irmão, Eduardo Jorge. Vocês não têm a menor idéia do quanto fui atingido amorosamente, permitindo - me acolher de forma sublime tamanha dor. Sou infinitamente grato por tamanho gesto de calor e humanidade para comigo e meus familiares. É tudo muito lindo !!!
Estou comovidíssimo!!!!
Amém para todos nós!!!


" Tudo o que sei é que devo
morrer em breve, mas o que mais
ignoro é essa mesma morte
que não posso evitar". PASCAL

As modalidades de experiência angustiante vividas pelo ser humano, todas elas nos trazem notícias de des-ilusão, ou todas elas apontam o fundo escuro da luz que chama ao êxtase. É o fim da luz que vai se tornando dominante na angústia. Não há mais expansão, mais aperto, um estreitamento que não possibilita mais nada. É a iminência do fim. Disseminada pelo cotidiano, a desilusão é o outro extremo do êxtase. Lampejos de vida, abismos de morte são as paisagens constantes que habitamos. E é neste cenário que surge um meio de tornar acessível um encontro com aquilo que mais profundamente nos caracteriza: recuperar a nossa presença no mundo. Mesmo que esta presença nos remeta para a cisão, e, portanto, para angústia.
E é por que nos sentimos cingidos, ou até traídos , neste vir - a - ser que nos impele como um poder sem fim? É assim que, enquanto protagonistas de nossas realizações, elas surgem como élan do momento seguinte, numa cadeia interminável de apelos que nos movem e asseguram nossa presença nesse concreto do estar junto com as coisas que estão aí e no ir junto com elas. Assegura - se, assim, nosso pertencimento a este mundo que nos rodeia , que é esse horizonte constante e a desvendar e, simultaneamente, é parte integrante de nós, numa corporeidade visível da qual nosso corpo participa e é aliado.
Esta conjunção corporal que se estende em horizontes de mundaneidade pode ser rompida abruptamente, quando a morte se anuncia: UMA SOMBRA SE ESTENDE SOBRE O VIR -A SER . A MORTE , COMO UM PÁSSARO DE PROA , PLANA POR CIMA DA MARCHA TRIUNFAL DA VIDA. E ela está aí, de convívio com o mundo, e em suas implicações de finitude, assegurada pela condição corporal humana. Um corpo que é afetado, que pode ser deteriorado, corrompido e que a toda hora periga. Somos sim, assediados pelo destino... Somos assinalados na nossa fragilidade, nas nossas contingências de sobrevivência, enfim, na finitude que a todo momento nos assola.
É aqui, também, que a vida em expansão nos assegura um domínio sobre a morte.Pois só na solidão a morte nos devora, num assédio inabalável que não permite disfarces. Morre - se só. E as experiências de morte remetem para o sofrimento solitário. 
Quem já não experimentou a amargura da perda , de tantas perdas que trazem o sabor do não mais , ou do nunca mais, e que vão marcando a fragilidade do nosso poder - ser, almejando um vazio que se estende e se instala a perder de vista?
A experiência do estar só no afeto perdido, no caminho percorrido que deixa para trás as paisagens desafiantes e que se desdobra , agora, na desolação, como se a vida tirasse o véu do mistério e se revelasse apenas na crueza do seu fim. Sem mais nada, eu, só, e a morte.
Talvez, sem este desafio solitário, todo poder seja um falso poder. Pois, quanto mais fundo ele estiver enraizado, quanto mais cultivado na origem daquilo que caracteriza o próprio ser, mais apto ele estará para se tornar o sustentáculo de uma existência.
Este desafio ao qual somos chamados pelo próprio nome, naquilo que somos , é algo que não podemos iludir arbitrariamente. Talvéz aí esteja o drama da nossa própria existência. É dramático, porque irrecusável e, simultaneamente, é o desafio que nos impele a viver.

Termino aqui, reportando - me a Fernando Pessoa ...
"Só uma coisa me apavora
A esta hora, a toda hora: 
É que verei a morte frente
a frente
Inevitavelmente".

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