Quero dedicar esse texto a todos àqueles que me enviaram mensagens afetuosas e
reconfortantes , pelo falecimento do meu irmão, Eduardo Jorge. Vocês não têm a
menor idéia do quanto fui atingido amorosamente, permitindo - me acolher de
forma sublime tamanha dor. Sou infinitamente grato por tamanho gesto de calor e
humanidade para comigo e meus familiares. É tudo muito
lindo !!!
Estou comovidíssimo!!!!
Amém para todos nós!!!
" Tudo o que sei é que devo
morrer em breve, mas o que mais
ignoro é essa mesma morte
que não posso evitar". PASCAL
As modalidades de experiência angustiante vividas
pelo ser humano, todas elas nos trazem notícias de des-ilusão, ou todas elas
apontam o fundo escuro da luz que chama ao êxtase. É o fim da luz que vai se
tornando dominante na angústia. Não há mais expansão, mais aperto, um
estreitamento que não possibilita mais nada. É a iminência do fim. Disseminada
pelo cotidiano, a desilusão é o outro extremo do êxtase. Lampejos de vida,
abismos de morte são as paisagens constantes que habitamos. E é neste cenário
que surge um meio de tornar acessível um encontro com aquilo que mais
profundamente nos caracteriza: recuperar a nossa presença no mundo. Mesmo que
esta presença nos remeta para a cisão, e, portanto, para angústia.
E é por que nos sentimos cingidos, ou até traídos ,
neste vir - a - ser que nos impele como um poder sem fim? É assim que,
enquanto protagonistas de nossas realizações, elas surgem como élan do momento
seguinte, numa cadeia interminável de apelos que nos movem e asseguram nossa
presença nesse concreto do estar junto com as coisas que estão aí e no ir junto
com elas. Assegura - se, assim, nosso pertencimento a este mundo que nos
rodeia , que é esse horizonte constante e a desvendar e, simultaneamente, é parte
integrante de nós, numa corporeidade visível da qual nosso corpo participa e é
aliado.
Esta conjunção corporal que se estende em
horizontes de mundaneidade pode ser rompida abruptamente, quando a morte se
anuncia: UMA SOMBRA SE ESTENDE SOBRE O VIR -A SER . A MORTE , COMO UM PÁSSARO
DE PROA , PLANA POR CIMA DA MARCHA TRIUNFAL DA VIDA. E ela está aí, de convívio
com o mundo, e em suas implicações de finitude, assegurada pela condição
corporal humana. Um corpo que é afetado, que pode ser deteriorado, corrompido e
que a toda hora periga. Somos sim, assediados pelo destino... Somos assinalados
na nossa fragilidade, nas nossas contingências de sobrevivência, enfim, na
finitude que a todo momento nos assola.
É aqui, também, que a vida em expansão nos assegura
um domínio sobre a morte.Pois só na solidão a morte nos devora, num assédio
inabalável que não permite disfarces. Morre - se só. E as experiências de morte
remetem para o sofrimento solitário.
Quem já não experimentou a amargura da perda , de
tantas perdas que trazem o sabor do não mais , ou do nunca mais, e que vão
marcando a fragilidade do nosso poder - ser, almejando um vazio que se estende
e se instala a perder de vista?
A experiência do estar só no afeto perdido, no
caminho percorrido que deixa para trás as paisagens desafiantes e que se
desdobra , agora, na desolação, como se a vida tirasse o véu do mistério e se
revelasse apenas na crueza do seu fim. Sem mais nada, eu, só, e a morte.
Talvez, sem este desafio solitário, todo poder
seja um falso poder. Pois, quanto mais fundo ele estiver enraizado, quanto mais
cultivado na origem daquilo que caracteriza o próprio ser, mais apto ele
estará para se tornar o sustentáculo de uma existência.
Este desafio ao qual somos chamados pelo próprio
nome, naquilo que somos , é algo que não podemos iludir arbitrariamente. Talvéz
aí esteja o drama da nossa própria existência. É dramático, porque irrecusável
e, simultaneamente, é o desafio que nos impele a viver.
Termino aqui, reportando - me a Fernando Pessoa ...
"Só uma coisa me apavora
A esta hora, a toda hora:
É que verei a morte frente
a frente
Inevitavelmente".