Em tempos sombrios, torna-se imperativo raciocinar.
Quatro atributos, todos detestáveis, compõem, ao meu ver, o perfil da cultura
brasileira hoje: o cinismo, a delinquência, a violência e o narcisismo.
Não é fácil, antes é muito doloroso, admitir que eles se tornaram a confusa
imagem do nosso país.
Nesses últimos tempos, estamos entregues ao vale tudo. Tenho a sensação que
nossos governantes estão agindo com a desenvoltura de gângster. O povo,
por sua vez, abandonado pelo Estado à sua própria sorte, acossado pela miséria,
sobretudo a miséria interna, e absolutamente descrente de qualquer solução de
caráter coletivo, trata, antes de mais nada, de defender a si mesmo, não se
identificando com nenhum valor social.
Não quero, com isso, explicar o Brasil. Quero dizer que, face a essa desorganização
que existe, vejamos como tendemos a nos comportar...
Se precipita sobre todos nós essa situação de descrença e de desespero. Ou
conseguimos restituir a possibilidade de investir num projeto futuro e nas
realizações de ideais, ou então vamos nos direcionar para o medo e o pânico.
Pouco a pouco, vão transformando-se em indivíduos social e moralmente
supérfluos. Por isso, essa sensação nacional de que nada mais tem valor.
Passa-se a proliferar a ideia de que o valor não existe, que tudo é igual.
Passa-se a imperar uma filosofia que, no nível político, do dia a dia, diz que,
seja eu um mau caráter, seja eu um homem de bem, é exatamente igual. Ou pior,
do ponto de vista do usufruto individual até há mais vantagens em ser um
cafajeste.
Penso que, sem um olhar que transcenda a realidade, o homem cai na agonia, na
atomização, no pânico. Desprovidos de ideais que produzam algum grau de
ordenação para o mundo concreto, homens desnorteados se afogam no temor.
Não há homem, portanto, sem ideal.
O CONVITE A RACIOCINAR É SEMPRE MUITO BEM VINDO.