quinta-feira, 10 de maio de 2018

NISE, IMENSA MULHER

HOJE ACORDEI ME LEMBRANDO DESSA IMENSA MULHER QUE DESEMPENHOU FUNÇÕES EXTRAORDINÁRIAS NA MINHA VIDA.
TIVE A SORTE DE CONHECÊ-LA QUANDO EU ERA MUITO JOVEM. DAÍ EM DIANTE, PASSEI A CONVIVER COM ELA DURANTE TODA UMA VIDA. E FOI TUDO MUITO DEFINITIVO E AINDA É.
ESSE TEXTO É PARA ELA.
Nise da Silveira acompanhou amorosamente o drama de alguns homens, cujo corpo e cuja história buscava resgatar.Importava abrir, ao menos, uma janela que desse para o mundo, para a expressão do desejo. Ocorre-me a imagem de Descartes, enquanto filósofo da distância, que via a rua da janela (2ª meditação), e a atitude inversa de Merleau - Ponty, buscando a plena inserção no mundo (notre âme n'a pas de fenêtres). Nise da Silveira praticou a mesma saída. Buscou a Diferença. O corpo. Isso me parece fundamental em seu trabalho. Teoricamente impecável, apaixonada pelos livros e pela vida, seu discurso fazia-se tanto mais crítico, quanto mais conhecia a face dos seus pacientes. Nise da Silveira separa a grande paixão que anima toda sua obra, o alto emblema de suas viagens e escavações: a unidade. Se o inconsciente de Freud (e sobretudo o de Jung) representou para ela um corte profundo e uma guinada real no estudo da loucura; se a substância de Spinoza emprestou-lhe um estofo de ilimitado conhecimento ( DEUS sive natura); a obra de Antonin Artaud abriu-lhe definitivamente um horizonte sem par. No universo das imagens, Nise da Silveira segue a aventura da unidade; infinita para Spinoza, árdua para Jung, dramática para Artaud. Assim, quando se destramam as raízes do ser, na selva escura da psique, quando a consciência submerge em noite densa, quando tudo parece perdido, perdura o fio sutilíssimo da unidade. Mas como isso ocorre? A resposta de Artaud é certeira: "Ter o sentido da unidade é ter o sentido da anarquia e do esforço para reduzir as coisas, reconduzindo-as à unidade". Esse é o percurso da Nise da Silveira. O labirinto da loucura, com suas paredes espessas e opacas, era o principal desafio de Nise da Silveira, pronta para surpreender no olhar de Fernando, nos desenhos de Adelina, no rosto de Emygdio e, sobretudo, no silêncio de Carlos Pertuis, a saída, o caminho de volta, o brilho secreto e fugaz da unidade.

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