quinta-feira, 10 de maio de 2018

OS POLÍTICOS, A CULTURA E O BRASIL

Tenho um nítido sentimento de esvaziamento de algo substancial no país. Na infância, meu pai, Joaquim, silenciosamente me disse: um livro para ser livro, tem que poder ficar de pé sozinho. E hoje, penso: são as palavras que fazem o livro ficar de pé. Em relação ao Brasil de hoje, me vem na cabeça: dá a impressão de não conseguir ficar de pé, não obstante o tamanho. Falta sustento. Vendo OS POLÍTICOS falarem na televisão, sentindo a pobreza do vocabulário, a ignorância da sintaxe, que se espalharam pelo país, e meditando sobre o vazio e desencanto que paira no ar, não posso deixar de pensar que o Brasil precisa desesperadamente da linguagem para conseguir ficar de pé. Lendo ADÉLIA PRADO, por exemplo, até que respiro aliviado. Ainda existem elementos de sustentação. MAS O QUE TEMOS COMO TRIVIAL é a linguagem chula e aplastada dos políticos, O ACADEMICISMO, A ERUDIÇÃO DESNECESSÁRIA, O PERNOSTICISMO, A JEQUICE OFICIAL DOS PRONUNCIAMENTOS EM REDE NACIONAL. É um contínuo achatamento, um esmagamento da personalidade da nação. Se temos, hoje em dia, tantos instrumentos de comunicação, como é possível desperdiçar tais oportunidades de falar? Voltando a ADÉLIA PRADO: cada vez que ela aparece na televisão, renascemos - ALGUÉM FALA POR NÓS COM A ENTONAÇÃO CERTA, O RÍTMO CERTO, AS PALAVRAS LAVADAS, BRILHANDO AO SOL COMO PEDRAS PRECIOSAS. O país parece ter perdido o direito de ver e ouvir, e a palavra seu poder de revelar. Ocorre-me, nesse instante, HERÁCLITO, o Obscuro...certa vez recebeu a visita de ilustres cidadãos gregos, desejosos de conhecerem o filósofo. Espantados, deram com ele humildemente preparando seu próprio pão. " Mestre, o senhor!" e ele respondeu, apontando o forno: "TAMBÉM AQUI OS DEUSES HABITAM ". Por um processo de memória sensorial, sinto , de repente, a nostalgia de uma pátria , aquela que na infância amamos e que, parecia a mais bela " entre outras mil". PÁTRIA - QUANDO COMEÇAREMOS A REESCREVÊ - LA?

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