quinta-feira, 10 de maio de 2018

PENSAR O BRASIL

POR QUE ESTÁ TÃO DIFICIL PENSAR O AMEAÇADOR BRASIL DE HOJE ? De olhos fixados no monstro... não há como recuar... Venho acompanhando os guias eleitorais e atento ao noticiário sobre a política brasileira nos últimos meses.Me dou conta de um determinado padrão de comportamento político no Brasil - uma espécie de patogia comportamental - que deve ser captado pela ética política. As caracteristicas que compõem esse padrão perverso de comportamento - debilidade do sistema de partidos, pouca fidelidade às legendas partidárias , baixa importância das orientações programáticas , fisiologia e adesismo, manipulação do voto - têm , ao meu ver, uma matriz explicativa. Vivemos num país em que a política está quase identificada a delinquência. Disso se conclui que, se políticos no fim das contas agem movidos por razões inconfessáveis, todos devemos fazer o mesmo. Percebo uma desvalorização da política em favor de uma cultura marginal, de delinquência, e dos interesses particulares de cada um. Se a política deixa de ser o espaço próprio ao exercício da liberdade, para tornar-se o lugar privilegiado da delinquência, os cidadãos intimidados retraem-se nos mecanismos cegos de sobrevivência. Estamos num país fragmentado em pequenos e cínicos EUS. Mas eis a serpente enroscada sobre sí mesma: na cultura da sobrevivência, em que os indivíduos investem todas as energias na defesa enfurecida de um terreno mínimo de sobrevivência, a conduta social de regra é a própria delinquência. O que o cinismo aponta é que não existe mundo de valores, porque qualquer valor é produto da violência... Mas, se não existe mundo de valores, qualquer situação é válida . Desaparece, então, qualquer possibilidade de reflexão ética. Estamos num país que pensa, mais ou menos , assim: ou você explora, ou você engana, ou você é calhorda, ou você é escroque, ou não há saída. Por que? Porque quem faz a lei é quem manda, quem se beneficia da lei são os amigos, quem legisla está está comprometido unicamente com seus interesses pessoais. A falácia ou balela de uma lei que fosse igual para todos é, portanto, mentira. Num país que pensa nestes termos, quem age dentro da lei caí no ridículo. É este cinismo aplicado à vida cotidiana que se torna o mais perigoso... Os cidadãos brasileiros parecem , hoje, condenados a um destes dois terríveis destinos : ou se tornam burocratas obedientes, indivíduos rotineiros que fazem da anulação de sí uma maneira de ser; ou reagem tomados pela arrogância delinquente, atributo extremo de uma cultura regida pelo abastecimento do próprio Eu. Os obedientes enfileiram-se na legião de provadores daquilo que HANNAH ARENDT chamou de BANALIDADE DO MAL, porque até o mais enlouquecido torturador é , antes de tudo , um burocrata dobrado pelo desejo de obedecer. Os que optam por delinqüir , perdendo a noção de prêmio e sanção, de permissão e interdição, afundam-se ... O burocrata servil é, na aparência, o oposto do delinquente arrogante, mas ambos fazem o mesmo tipo de jogo: desmerecem a importância de um ideal. Sem um ideal que caucione a vida social, o homem torna-se um ente que viaja na escuridão... dando lugar ao pânico, de tremendo efeito avassalador ..Diante dele , a opção é a fruição imediata do mundo . O presente tona-se destino, enquanto o futuro transforma-se apénas numa quimera, estúpida, que esfarela em nossas mãos. Estamos próximos, é preciso dar o nome , da PSICOPATIA. O que é o psicopata, senão aquele que, dentro de uma cultura que funciona adequadamente, é cego em relação a valores? Se todos passam a agir à revelia da norma e da lei, entramos de fato numa cultura delinquente. O que desnorteia o país hoje é, mais que uma doença, o sentimento de que fomos lançados de volta a um tempo primitivo e disforme anterior a toda lei.Em tempos assim, voltar-se exclusivamente para sí, aparenta ser a única máscara capaz de garantir ao homem um mínimo de imunidade. Só munido dessa cápsula, ele ainda pode sentir confiança para navegar pelos desvãos de um país que exterminou a lei. Fico aqui pensando e, advertindo-me com os meus botões : num país em que a lei foi posta em descrédito, qualquer promessa de lei, por mais draconiana que seja, ou talvez quanto mais draconiana seja , pode comportar um poder de sedução irresistível.Podemos estar montados , na cegueira de nosso pânico, sobre o ovo da serpente... e diante do perigo da paralisia. ENFATIZO ISSO PORQUE NÃO TENHO UMA VISÃO IDÍLICA DO QUE PODE VIR ACONTECER NO BRASIL... NADA ASSEGURA QUE AS COISAS TENHAM SOLUÇÃO.... PENSO QUE O QUE REALMENTE ESTÁ EM JOGO, É A LIBERDADE...A LIBERDADE , NO SENTIDO CLÁSSICO, É A LIBERDADE DE SAIR Á RUA , DE PARTICIPAR DO CONVÍVIO COMUM.ERA ISSO QUE O ESCRAVO NÃO TINHA, E ERA POR ISSO QUE ELE NÃO ERA LIVRE. Cidadãos reclusos em seus Eus, armados de cinismo até a alma, para quem atuar socialmente é o mesmo que delinquir, vivem da ilusão de que podem escapar solitários da catástrofe. Não vão escapar... a espécie humana não tem instinto de sobrevivência. Ela pode explodir o planeta de uma hora para outra ,pode fazer da própria vida um inferno.O que a protege de sí mesma é a cultura.Este mundo de leis e ideais que transcende cada desejo individual e nos faz empenhar a palavra e depois cumpri-la. SEM OS LIMITES DITADOS POR ESTA LEI, O PAÍS PERMANECERÁ ENJAULADO NAS PEQUENAS MIRÍADES DOS "EUS"...É ELE QUE NOS ENLOUQUECE E NOS COLOCA EM DESAMPARO...

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