Ainda refletindo sobre o
estúpido desaparecimento de KUKA ... Praticar a lembrança da morte, é uma ideia
intrigante e eminentemente razoável. Lembro-me aqui da poeta americana Mary
Sarton, que certa vez, resumiu de forma simples : " Uma pessoa deve viver
como se estivesse morrendo - e todos nós estamos, claro - porque assim as
prioridades ficam mais claras." A morte precisa nos acompanhar por toda a vida, e não nos perseguir. Mórbido? Não - budista.
Ao meu ver, não existe nenhuma outra prática que intensifique tanto a vida,
quanto praticar a lembrança da morte. Quando ela se aproxima não deve nos pegar
de surpresa. Ela deve fazer parte do que esperamos da vida. Sem um senso de
morte sempre presente, a vida é insípida... Aceitar a nossa mortalidade não é
algo fácil ou um evento único - é um processo que leva a vida toda.É claro que
a morte é assustadora e nos enche de um terror existencial. Certa vez falou
WOODY ALLEN : " Não tenho medo da morte, só não quero estar lá quando
acontecer." Fico pensando, aqui com meus botões, que aceitar a morte
envolve uma espécie de luto - por si mesmo. Exige que nos libertemos do nosso
senso de onipotência para assim encarar a finitude.Existe algo de humilde nisso.
Embora todos nós morramos no singular, tentar aceitá-la ao lado de outros faz
com que nos sintamos menos excluídos, menos perseguidos por ela. Penso eu, que
quando começamos realmente a aceitar o fato de que vamos morrer, a velhice se
torna muito menos aterrorizante: significa que, não se está morto ainda.
Pessoas que não conseguem olhar para a frente conforme envelhecem dão ré... tudo
que elas veem é o passado. Encarando um assunto que costuma nos deprimir e
assustar, nos sentimos mais leves, mais livres, com tudo mais vivo. Quanto mais
nos envolvemos com a morte quando ela não está iminente, menos associaremos as
pessoas mais velhas à morte. A velhice não será mais sinônimo de morte, ou
estar prestes a morrer, mas de vida. E quando chegarmos à idade deles,
colheremos os benefícios.
